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Boruto: Naruto Next Generations trouxe ideias novas, expandiu o universo criado por Masashi Kishimoto e apresentou conceitos ambiciosos que deram continuidade ao legado de Konoha. Ainda assim, algo parece faltar. Por mais que o mangá tenha seus momentos brilhantes, muitos leitores afirmam que Boruto não atinge o mesmo nível de profundidade emocional e narrativa de Naruto e isso vai além de simples nostalgia.

A seguir, comparamos os dois mangás em aspectos fundamentais como tragédia, vilania, ritmo de narrativa, lutas, construção de personagens e poderes. O objetivo? Compreender por que Naruto ainda é considerado por muitos a obra mais impactante da franquia.

1. Tragédias com peso real

Reprodução/Studio Pierrot

Desde o início, Naruto carrega uma aura sombria e emocional. A infância de Naruto e Gaara, marcadas por rejeição e solidão, a dor de Sasuke ao ver seu clã dizimado, ou a trajetória trágica de Nagato, mostram o quanto a série lida com sofrimento de forma crua e significativa.

Em Boruto, mesmo os momentos mais sérios parecem suavizados. Os personagens vivem em uma era de paz e tecnologia, o que naturalmente reduz o impacto das tragédias. Ainda assim, quando elas ocorrem, carecem do mesmo peso emocional, algo que impede os leitores de se conectarem profundamente.

2. Vilões que deixaram marca

Um dos maiores acertos de Naruto foi dar profundidade a seus antagonistas. Zabuza e Haku, logo no início, mostraram que vilões podem ser trágicos e humanos. Obito, Nagato, Itachi, Sasori, Orochimaru: todos tem histórias que justificam seus atos, mesmo que não os redimam.

Boruto, por outro lado, foca mais em vilões superpoderosos e entidades cósmicas como os Otsutsuki ou árvores sencientes. Eles podem ser fortes, mas são frios, distantes e genéricos. Falta empatia, falta história. Até Orochimaru, que ainda aparece, perdeu a presença caótica que o tornava memorável.

3. Ritmo apressado e narrativa fragmentada

Naruto, mesmo com seus altos e baixos, como o longo arco da guerra, tem uma estrutura narrativa mais orgânica. As histórias se desenvolvem, têm consequências e deixam cicatrizes.

Em Boruto, cada capítulo tenta resolver muitas coisas ao mesmo tempo, e poucas tramas recebem desenvolvimento real. A progressão ocorre fora das páginas, com saltos de tempo e resoluções rápidas. Isso tira o impacto e o envolvimento do leitor.

4. Lutas com stakes reais e inteligência

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As lutas de Naruto tinham tensão, estratégia e emoção. Ver Rock Lee tirando os pesos contra Gaara, ou a genialidade tática de Shikamaru em ação, mostrava que não bastava ter poder, era preciso saber usá-lo. Combates como Naruto vs. Pain ou Guy vs. Madara são lembrados até hoje.

Em Boruto, os poderes escalam tanto que as batalhas perdem peso. Kawaki, por exemplo, se apoia em modificações corporais e poder do karma. Jura, um vilão recente, absorve jutsus com facilidade, o que torna o combate um festival de brilho, mas sem tensão real.

5. Plot armor e escala de poder inconsistente

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Reprodução/ Animes

Naruto sempre teve o que chamamos de "armadura de enredo", mas havia limites. Ele precisava treinar, falhava, era salvo por amigos. Isso criava empatia.

Em Boruto, a escala de poder se tornou tão desequilibrada que personagens antigos como Kakashi, Sakura e até Sasuke muitas vezes são ignorados ou enfraquecidos. O protagonismo de Boruto e Kawaki vem acompanhado de soluções fáceis e mudanças abruptas, prejudicando a credibilidade do universo.

6. Relações e interações mais humanas

naruto sasuke
Reprodução/ Naruto

As relações em Naruto são um dos pilares da obra. A rivalidade entre Sasuke e Naruto, a devoção silenciosa de Hinata, os laços entre mestres e alunos, tudo era construído com tempo e cuidado.

Boruto tenta não repetir fórmulas, mas erra ao forçar conexões. Sarada parece existir para ser o interesse amoroso do protagonista. Eida é obcecada por Kawaki sem construção real. A química entre personagens muitas vezes soa artificial.

7. Poderes cósmicos mal aproveitados

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Reprodução/ Naruto

A introdução da técnica Omnipotência de Eida em Boruto gerou polêmica. Trata-se de uma habilidade que altera a realidade e a percepção das pessoas e que praticamente não pode ser anulada. O problema? Isso cria uma situação onde o roteiro perde controle e a coerência desaparece.

Já o Tsukuyomi Infinito em Naruto é igualmente absurdo, mas muito melhor contextualizado. Era o plano final de Madara, envolvia manipulação política e ilusões baseadas nos desejos das vítimas. Ainda que também fosse uma forma de "fim do mundo", fazia mais sentido narrativo.

8. Complexidade de personagens

Boruto Naruto
Reprodução/ Boruto

Naruto cresceu com o leitor. Seu desejo de se tornar Hokage era movido pelo trauma da rejeição e pelo desejo de proteger. Itachi é o maior exemplo de personagem complexo da franquia, agindo por sacrifício e amor fraterno. Até vilões como Sasori tinham profundidade emocional.

Em Boruto, os protagonistas têm motivações rasas. Kawaki odeia os Otsutsuki porque sim. Boruto idolatra Sasuke porque o acha “legal”. Sarada quer ser Hokage sem entender o que isso representa. A ausência de nuance torna os personagens menos memoráveis.

Conclusão: Naruto ainda é o coração da franquia

Boruto tem valor. Sua proposta de avançar a geração e apresentar novos desafios é legítima. Há boas ideias, ótimos momentos e potencial para evoluir. Mas ainda falta o peso emocional, a construção cuidadosa e os personagens inesquecíveis que fizeram de Naruto um marco da cultura pop.

Enquanto Boruto: Two Blue Vortex continua no mangá e em breve deve ganhar novas temporadas animadas, a base emocional de Naruto segue sendo o pilar que sustenta o sucesso da franquia.



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