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O site Screen Rant fez uma interessante matéria falando sobre o controverso mangá da Shonen Jump, Drama Queen. Com o fim de importantes mangás da revista, como Jujutsu Kaisen e My Hero Academia, e o possível encerramento de One Piece nos próximos anos, a Jump está em busca de novos sucessos.

Até o momento, o único grande sucesso encontrado pela Jump parece ter sido Kagurabachi, no entanto, um novo mangá está chamando cada vez mais a atenção do público internacional, Drama Queen de Kuraku Ichikawa. O mangá estreou em 2 de dezembro de 2024, na Shonen Jump+.

Reprodução/ Screen Rant

No aplicativo MANGA Plus, focado no público ocidental, Drama Queen está classificado como o primeiro das “tendências” e o quarto nos “mais quentes”, com seu segundo capítulo sendo superado apenas por Chainsaw Man, One Piece e Boruto. Infelizmente, o que tem feito do novo mangá tão popular com ocidentais não é apenas sua qualidade, mas suas polêmicas. 

Segundo o site Screen Rant:

“Os temas, o cenário e a história provocaram uma grande indignação online, com fãs recorrendo às mídias sociais para castigar Drama Queen por ter tons descaradamente racistas e xenófobos. Embora o debate pareça ter diminuído entre o primeiro e o segundo capítulo, ele ainda está acontecendo, como provado pelo fato de que Drama Queen #2 tem quase 500 comentários no MANGA Plus, em comparação com o último capítulo de One Piece, que mal passa de 350.”

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E os comentários criticando o mangá são dos fãs ocidentais que parecem ter entendido a obra da Shonen Jump de forma errada. Mas, para entender os motivos do ocidente estar compreendendo o mangá erroneamente, primeiro você precisa saber sobre o que se trata Drama Queen.

O Screen Rant resume os dois primeiros capítulos do mangá da seguinte forma:

Em Drama Queen, o planeta Terra experimenta uma onda de imigração repentina e imparável de alienígenas, depois que essa espécie ainda sem nome salva a Terra de um iminente ataque de meteoro. As autoridades da Terra dão as boas-vindas aos alienígenas, que se integram à vida cotidiana apesar de suas aparências diferentes. No entanto, há uma mudança cultural significativa, que é perfeitamente retratada no primeiro capítulo. Todos na Terra amam os alienígenas por causa de sua intervenção e das inovações trazidas por sua tecnologia, então eles basicamente têm permissão para fazer o que quiserem.

A protagonista, uma garota chamada Nomamoto, trabalha em um emprego servil e de baixa remuneração para um chefe alienígena tirânico que explora seus trabalhadores e nem mesmo fala sua língua. Ela acredita que é a única que odeia os alienígenas até conhecer o colega de trabalho Kitami, um garoto que perdeu a família em um acidente de carro causado por alienígenas bêbados, que nunca foram perseguidos por isso. Uma noite, Kitami aparece na casa de Nomamoto com um alienígena que ele matou acidentalmente. Para se livrar do corpo, Nomamoto, que nunca conseguia comer o suficiente, decide cozinhá-lo e comê-lo, descobrindo que gosta do sabor dos alienígenas, 

Essa premissa selvagem continua no capítulo #2, onde a dupla decide que Kitami matará o máximo de alienígenas que puder, e Nomamoto se livrará dos corpos comendo-os.”

Reprodução/ Screen Rant

Apesar de sua premissa chocante e que trás crimes xenofóbicos como temática, o mangá é mais profundo do que apenas isso. No entanto, os fãs ocidentais julgaram muito rápido a obra, sem refletirem sobre a relação do Japão com a imigração.

Diferente do ocidente, o Japão quase não tem imigração, devido a suas rígidas leis. E, mesmo essas leis tendo sido mudadas um pouco ao longo dos anos, o país ainda não tem muitos imigrantes. Além disso, é preciso lembrar que o Japão foi forçado a abrir suas portas para o ocidente por meios militares, o que torna o relacionamento do país com o “exterior” muito complexo.

Atualmente, o Japão tem sofrido com o turismo excessivo, que tem causado problemas para os japoneses, devido às diferenças culturais que não são respeitadas pelos turistas, que além de não seguirem as regras de convivência do país, postam nas redes sociais vídeos desrespeitando os japoneses e seus costumes. Até mesmo lojas têm sido obrigadas a colocar placas avisando aos turistas sobre comportamentos que eles devem evitar.

E, o mangá da Shonen Jump Drama Queen surge em meio a todos esses contextos resumidos anteriormente. E se analisarmos de forma profunda quem são os alienígenas do mangá, eles não são os “imigrantes ocidentais”, mas os turistas vão para o Japão. 

Os imigrantes que saem de suas terras natais para viver em países ocidentais estão fugindo da guerra e da fome. E eles são obrigados a deixarem suas culturas e costumes para trás, para viverem na pobreza em países desenvolvidos, que normalmente não os querem, em empregos desvalorizados, com baixos salários, sofrendo preconceito e com medo de serem deportados. 

Já, os alienígenas de Drama Queen têm os melhores empregos, ótimas condições financeiras e de vida, e podem fazer o que quiserem, pois são protegidos pela lei e pelas autoridades. Portanto, são a representação do que os japoneses têm vivido com os turistas e a imigração, e não a realidade ocidental e sua imigração.

Reprodução/ Screen Rant

Assim, se vermos o mangá do nosso ponto de vista ocidental, seremos levados ao erro de interpretar a história da obra como racista, quando, na verdade, ela parte de uma realidade totalmente diferente da nossa. Apesar do Japão ter sérios problemas com racismo, e isso não ser algo que se deva ignorar, Drama Queen parece estar falando muito mais sobre a crise do turismo do país, do que sobre questões de racismo que vemos no ocidente. 

Segundo o site Screen Rant:

Mais do que sobre raça, Drama Queen parece ser sobre privilégio. Os alienígenas são substitutos de uma classe privilegiada que foi capaz de cair nas boas graças do povo, essencialmente, mentindo (já está implícito na série que o acidente do meteorito foi encenado) e oferecendo a eles algum entretenimento baseado em tecnologia. No mínimo, eles são muito mais semelhantes a políticos e magnatas da indústria. Eles estão acima da lei, agem como se fossem melhores do que todos os outros e exploram mão de obra barata.”

Escondendo temas mais profundos além do humor negro e provocações, seguindo assim os passos de Chainsaw Man, a série com a qual tem sido mais comparada, Drama Queen promete ser uma exploração convincente do conceito de humanidade, uma vez que se aplica tanto ao ‘outro’ quanto a nós mesmos.

Infelizmente, essas nuances parecem perdidas para uma grande parte do público ocidental, com algumas pessoas chegando a defender que a Shueisha cancele a série imediatamente.”

Fonte: Screen Rant